Achismos e Perdidismos
sábado, 25 de junho de 2011
Chorava, chorei, choro
terça-feira, 12 de abril de 2011
Ora direis... (Epílogo)
Esquecido das falas e dos laços que o compõem, dorme tranquilamente sob a via láctea enquanto o Capibaribe, refletindo-a, aguarda o Poeta no seu último afogar de mágoas.
Ora direis... (Parte 4)
Ora direis... (Interregno)
Parece que nunca atentaram para a inutilidade das gavetas. Guardamos nelas a ilusão de que nossa vida pode ser organizada. Numa, ficarão as gravatas. Noutra, os papéis de seda e os laços de fita. Entanto, surgirão objetos inclassificáveis cujo lugar não será a cômoda nem a mesa de cabeceira. Menos ainda o armário da cozinha. Tampouco o esquecimento do quarto de despojos. Haverá sempre coisa e homem para os quais não acharão nenhuma gaveta no mundo. Eles estarão lá no umbral dos acomodados pela classificação arbitrária dos compartimentos a infernizar em busca de um canto onde se encaixar e eternamente insatisfeitos com o vão onde os puseram.
Ora direis... (Parte 3)
Perdão. O moço me perdoa? Perdoe que estou bêbado e errado. Por que, moço? E a gente precisa de motivo pra beber? Triste a gente bebe. Alegre também. O time ganha a gente bebe. O time perde a gente bebe. A mulher deixa a gente bebe. Mas tem um motivo. Saudade do Zuzinha, moço. Saudade que dói até na bola do olho. Zuzinha morava no meu coração. Morava não. Mora. Zuzinha era o bêbado mais alinhado desse lugarzinho pisado pelo diabo. Cada palmo. Um inferno, moço! Olhe ao redor. Vinha todo dia com suas calças claras e seus versos brancos tomar uma com a gente. Ele mesmo dizia: cada um tem seus ópios. Nem sei o que é isso, moço, mas se Zuzinha dizia era verdade. A dona de casa com seus panos de prato e vassouras. Os homens com seus sacos pra carregar. O carro pra sair no sábado, o filho com colégio pago, prestações da casa. Menino come tijolo. Adolescente bate punheta. Gordo não vive sem comer na panela. Então por que diabos a gente não pode encher a cara de cachaça? Perguntava. Ele iluminava a gente, sabe? Eu, o Piaba e o Socó. Estudamos juntos. A cabeça das gentes três dava pra estudo não. Eu mais o Piaba e o Socó. Mas Zuzinha, moço. Zuzinha era o crânio. Ganhou concurso de redação. Apareceu em televisão dando entrevista. Era pra ele ser o exemplo de pobre saindo do lixo e ganhando salário bom. Ocupando cargo na prefeitura. A gente olhava Zuzinha e via que nem todo mundo daqui ia ser embalador de compra, moço. Ou varredor de rua. Ou camelô. Zuzinha era a esperança. Mas deu um murro nas caixas do peito de todo mundo. Nos seus dias de azougue ele xingava. Para o caralho todos vocês! Para o caralho! Não vou ser ponte de ninguém. Nem escada. Nem exemplo. Nem mártir nem herói. Cada qual com seu Fado e a última Parca que parta o fio! E ficava calado o resto da tarde com seus cadernos e sua quartinha. Quando de bom humor, era um patrício. O senhor da Ágora. Ele mesmo dizia. E a gente era sua audiência. Vinha lá do Alto, calça engomada, camisa de linho, sapato lustrado. Um primo rico. Entrava na sala de leitura no pé do morro. Lá ficava o resto da manhã. Meio dia ele achegava pra dizer pilhéria e poesia. Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” Eu vos direi, no entanto, Que para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... Nem sei como decorei isso. Acho que foi de tanto ele repetir. Era vício, moço. Zuzinha só tinha dois. Poesia e aguardente. O que vem a ser a mesma coisa. Ele mesmo dizia. Quer ouvir uma coisa, moço? Guardo comigo uma folha que desprendeu de um dos cadernos de Zuzinha. Vá me desculpando que a minha leitura é muito ruim.
AVISO
domingo, 3 de abril de 2011
Caleidoscópio dum Instante
Foi num dia em que a chuva